Exclusiva com o estilista que marcou uma época, vestiu celebridades internacionais e nacionais, criou a badalada Mr. Wonderful
25 de abril de 1941 – Nasce Luiz de Freitas em Pau Grande, distrito do município de Magé, interior do Rio de Janeiro.
Aos 9 anos faz seu primeiro vestido para sua irmã ir à igreja.
Aos 19 anos muda-se para o Rio para começar efetivamente a carreira de criador de moda. Desenvolveu uma produção em pequena escala para boutiques do Rio.
Em 1965 oficializou sua primeira etiqueta, a Belui que vestiu as mulheres mais elegantes do Brasil. Na década de 70 criou a marca teen, a 20 ANOS.
Em 1978 passou a integrar o grupo de moda mais importante da história do prêt-à-porter brasileiro – o Grupo Moda Rio.
No final da década de 70 inaugurou a sua loja CLINICA DE MODA, onde convidava os homens a se vestirem de maneira diferente e se tornarem Mr. Wonderful.
Por quase duas décadas reinou absoluto na moda masculina brasileira, vestindo grandes nomes do mundo artístico e intelectual brasileiro. Ganhou a Europa, participando de feiras internacionais e abrindo lojas em Portugal e Amsterdã e um showroom em NY.
Em meados de 1995 passou a se dedicar aos figurinos exclusivos de shows para artistas de renome. Neste período começou também seu trabalho com o carnaval carioca, onde se notabilizou fazendo figurinos de comissões de frente das escolas de samba.
Aproveitando o embalo, Luiz de Freitas irá lançar seu livro Mr Wonderful, na livraria da Travessa em Ipanema, amanhã, dia 07 de agosto. Imperdível!
Revolução é transformação profunda, mudança radical. No seu ponto de vista, qual foi a revolução que a Mr. Wonderful realizou no mundo da moda masculina?
Eu estava em NY analisando a situação da mulher indo para o mercado de trabalho e avançando no seu posicionamento na sociedade. Além disso, me intrigava o fato de que as mulheres estavam séculos à frente dos homens no seu visual.O machismo vigente no Brasil me oferecia a oportunidade de provocar e contestar o universo da moda aqui. Os homens estavam em desvantagem pois eram totalmente inseguros para assumir vestir o que realmente gostavam. Quando fiz a primeira loja da Mr. Wonderful na Clínica de Moda, eu mesmo me surpreendi com a receptividade. Acho que eu consegui detectar que o homem estava sedento de mudança. A revolução que consegui fazer na moda brasileira na verdade foi a resposta para a ansiedade de liberdade masculina ao se vestir.
Você preservou o acervo da Mr. Wonderful? Como ele é constituído? Está sob sua posse ou você doou para alguma instituição?
Sim, preservei. Tinha a expectativa que este acervo pudesse ser usado até nas novelas de época da TV. Tenho acervo dos dois ciclos da MW, da época da Clínica de Moda e da época do relançamento em 2007, mais do segundo ciclo por conta da conservação das peças porque aqui tudo se deteriora. O acervo é constituído de todos os tipos de roupas, ternos, casacos, macacões, camisas, calças, bermudas.Não doei para nenhuma instituição porque faltou interesse das mesmas.
Você nasceu em Pau Grande, onde também nasceu o Garrincha. Quais são as suas lembranças da sua cidade natal?
As lembranças mais fortes estão relacionadas ao tipo de educação que recebi numa comunidade brasileira organizada pela civilização inglesa. Quem mandava em Pau Grande foram os industriais ingleses que trouxeram para cá a indústria têxtil. Era uma vida nos moldes ingleses. As pessoas até comentavam que vivíamos num regime paternalista, tipicamente comunista. Minha infância foi influenciada por isto. Existia um certo refinamento naquele tipo de vida, embora não tivéssemos dinheiro. E nem precisávamos muito porque a indústria nos provia do que era necessário. Tínhamos a melhor escola, tínhamos o melhor atendimento médico, tínhamos casa confortável, horta farta e variada e até um cinema nos moldes europeus.
Como se deu o seu interesse em trabalhar com moda?
Eu não tinha a consciência exata de que poderia ser estilista. Minha maior motivação era ganhar dinheiro porque era pobre. Quando, aos nove anos de idade, fiz o vestido para minha irmã, de repente me deu um insight de que eu poderia ganhar dinheiro costurando. Nessa época entendi que a anatomia humana poderia ser traduzida por um sistema geométrico para desenhar e criar uma roupa. Isto foi facilitado porque na minha casa tinha estoque de tecidos e minha avó me deu alguns metros para fazer o vestido da minha irmã. Sentar na máquina de costura foi uma etapa facilmente vencida. A maior dificuldade era fazer as duas mangas de maneira idêntica. Até hoje, quando vejo uma roupa numa vitrine meus olhos são atraídos pelas magas mal feitas. O resto foi seguir os sinais que a vida me dava para evoluir no ramo da moda.
Você vestiu homens como Prince, Rod Stewart, Fred Mercury, Fernando Gabeira, Caio Fernando Abreu, entre outros. E hoje vive uma vida simples em Magé, longe dos holofotes. Como é experienciar esses dois extremos?
Conheci vários casos de pessoas que suicidaram porque perderam suas fortunas, pois é muito difícil a pessoa ter sido rica e ficar pobre. Eu nasci pobre e graças ao meu trabalho, ganhei muito dinheiro e depois perdi tudo, mas não voltei ao estágio inicial porque não sou pobre de espírito e carreguei para este ciclo simples, quase monástico, toda a minha riqueza interior. Gastei meu dinheiro em riqueza cultural, adquiri a cultura que eu não tinha. Minha pobreza hoje é totalmente diferente da minha infância e adolescência. Na primeira pobreza ela era estrutural, na segunda pobreza eu carreguei comigo a riqueza. Fui beneficiado neste processo, porque quando o meu dinheiro acabou o mundo já tinha virado uma mesmice. Vivi os verdadeiros anos dourados, vivi a época das grandes festas totalmente personalizadas. Como eu me enriqueci internamente ficou mais fácil aceitar a simplicidade deste novo ciclo, hoje sou um pobre com bastante cultura e muita experiência.
Você também trabalhou para o carnaval. Quais são os trabalhos que você realizou? Tem algum profissional da área que você gostaria de destacar?
Quando eu criava moda era algo que eu tirava de dentro de mim, da minha essência. Eu não pesquisava quando fazia moda porque não queria sofrer influências, simplesmente seguir tendências. No carnaval eu aprendi a fazer pesquisa, a buscar referências porque eu tinha um roteiro, um enredo para seguir.No carnaval aprendi também a lidar com os preconceitos, pois este meio é o mais machista que eu conheci.Os maiores trabalhos do carnaval foram os que emocionaram quem estava vendo. No caso do Carnaval foi o trabalho da comissão de frente coreografada pelo Carlinhos de Jesus que homenageava os baluartes da Mangueira. A criação do figurino desses baluartes me envolveu completamente e me emocionei junto com o público que chorou de emoção.O profissional do carnaval que me impressionou muito foi a profissional falecida recentemente a Rosa Magalhães. Ela era um exemplo de cultura, arte e didática. Foi um prazer enorme trabalhar com ela.
O Brasil é um país que apresenta uma sociedade com um racismo estrutural. Como foi a sua luta para enfrentá-lo?
A minha luta foi diferenciada. Quando o racismo chegava perto de mim eu já tinha apresentado o meu trabalho e ele abria portas assim como anulava qualquer tentativa de desmerecimento pelo racismo. Meu trabalho sempre chegou primeiro que o racismo. Fico impressionado ao constatar que o racismo no Brasil é diferente, ele não resiste ao domínio financeiro. Se o preto é rico, ele não sofre racismo, mas o pobre não consegue se libertar dos preconceitos.Na verdade, ao contrário do esperado, o fato de ser negro até me ajudou em algumas situações. Quando Prince veio ao Brasil eu fui procurado pela incrível modelo Cindy Crawford para uma entrevista para o seu programa Coast to Coast, como uma prova de que existia um estilista negro fazendo sucesso. Gabeira já tinha dito que eu tinha tudo para fazer sucesso porque era preto, pobre e gay.
O que é ser Preto no Brasil?
Quando comecei a viajar para o exterior concluí que o terceiro mundo vai ser sempre terceiro mundo, porque falta consciência do seu potencial.Ser preto no Brasil complica quando isto se alia à pobreza. Preto pobre não tem a menor chance no nosso país. Essa terrível situação só tem chance de acabar pela educação. Ninguém segura um preto culto e educado, especialmente se for consciente dos seus direitos e que consegue ascender socialmente e financeiramente.Como bom brasileiro eu queria ajudar o Brasil, vivendo no Brasil. E olhando de fora, eu sabia que todas as oportunidades estavam aqui e o meu país me deu a chance de criar e crescer. Fiz a minha parte porque, apesar de ser preto, tive uma educação privilegiada que me imbuiu de orgulho da minha raça.
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